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Blackout

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Quando abri os olhos me deparei com o blackout, cheguei até mesmo a pensar que estava cega. O chão molhado, meu rosto também – um líquido estranho, seria sangue? – levantei e resolvi andar, queria entender o que estava acontecendo, o turvo foi tomando forma, forma monocromática, o caos estava instalado, na minha mente é claro, claro que minhas últimas lembranças eram do João dançando e segurando uma garrafa de Jack Daniels já pela metade. Puta ressaca ou ressaca de puta? Que porra eu tinha feito?

Um carro passa por mim, o cara bem vestido vem falar comigo, olho pra ele e vejo que não passa de um babaca que nunca comeu ninguem, o que será que ele quer? A boca do sujeito se move, não entendo nada, ainda estou zonza.

Blackout.

Abro os olhos mais uma vez, tô no topo de um prédio, a escala de cinza me persegue, agora luzes brilham e não sei se estou em Gotham ou em Sin City. Posso ser quem eu quiser.

Touché!

Posso ser quem eu quiser.

O turvo toma forma. São apenas as remelas que impedem os olhos de acordarem de uma noite bukowiskiana. O céu está claro e eu estou atrasada.

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maio 23, 2013 · 4:21 am

Como funciona a ficção

Imaginação, imagens, ação, palavras, papel, caneta e a infinita possibilidade de criar um mundo, pessoas, línguas, animais falantes, objetos que ganham vida, jardins que se transformam…situações incoerentes com a realidade.
Escrever sempre foi uma fuga, um refúgio, um conforto, uma vontade de fazer acontecer o que não acontece ou de simplesmente contar o que acontece de um jeito mágico.
Dificuldade com as palavras na vida real, a vontade de ser compreendida sem conseguir ser clara e precisa.
Como funciona a ficção? O que é ficção? Se a ficção não existe, por que é possível se sentir viva numa atmosfera onde nada é real?
Fazer chover sapos, criar ets amigos, um parque cheio de dinossauros, um mundo de pessoas azuis que lutam pela natureza, simular o fim do mundo, amar o proibido, conversar com peixes, ser amiga de pinguins, conseguir voar, torcer por um homem que se veste de morcego, se identificar com um pirata bêbado.

Magia.

São inúmeras as possibilidades, poderia falar sem parar dos personagens criados e que eu e você idolatramos. Dos livros, dos filmes que podemos assistir no “mudo” e falar em voz alta os diálogos decorados, as frases feitas, os jargões…

Escrever é uma matemática mágica, se você sabe a fórmula, cria quantas equações quiser e o resultado aparece bem ali…por vezes redondinho, por outras com alguma vírgula imprecisa.

Hoje eu li o texto de um amigo que tinha um blog, um texto curto, mas cheio de cor, de imagem, de fatos…quando perguntei onde poderia achar mais daquilo, me referindo a um antigo blog em que ele costumava vomitar palavras, sua resposta foi bem simples, mas me deu uma cutucada: “…aposentei, agora é assim de vez em quando”.
De vez em quando, de vem em quando…
Na hora lembrei disso tudo aqui e do dia em que comecei a vomitar minhas palavras, criar meus personagens, inventar meus mundos.
Me transformei no “assim de vez em quando” e nem percebi, senti saudade de quando sentava na frente do computador, de quando andava com um caderninho pra cima e pra baixo e de quando não existia hora certa pra vomitar o que se passava pela minha cabeça, as coisas costumavam fluir com mais facilidade, as histórias surgiam, pessoas nasciam, fatos reais se fantasiavam sem máscaras!
Abri meu blog e li os últimos textos, todos em crise visível de criatividade…como se de repente minha vida tivesse ficado vazia, como se a criatividade tivesse tirado uma folga por algum lugar da minha cabeça e também tivesse se escondendo de mim.

“Preciso recuperar o tempo perdido”, pensei.
“Preciso escrever”, escrevi.
“Como funciona a ficção?”, li na capa de um livro.
“Mas…como funciona a ficção?”, pensei, pensei, pensei.

“Adicionar Novo Post”, olhei pra tela em branco e pro cursor que piscava como se me cobrasse algo.

“Vamos! Escreve menina! Escreve, inventa uma história, conta alguma coisa!”, dizia o cursor piscando agoniado.

“Mas eu não sou de escrever sobre o que se passa comigo…tô de mal com as palavras, elas não querem me ver”

“Então fala sobre o que é escrever, resgate o amor que sente quando forma frases de efeito, converse com elas…elas irão voltar”.

A ficção funciona assim…sai lá do fundo quando você menos espera e quanto mais eu escrevo, mais escreverei, quanto mais eu crio, mais criarei.
Bem vinda de volta, seu velho hábito te espera.

Escrevo, logo existo. Existo, logo escrevo.

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Referência.


O olhar pro mundo.
o olhar pro mundo forma mais que qualquer referência de uma terceira pessoa.
Às vezes essa coisa de referência PRENDE, restringe.

Gosto, admiro, fico encantada mas me aprofundo pouco…
MEDO
Medo de ficar mergulhada no que não sou EU.
Eu sei de mim.
Eu sei onde eu quero mergulhar
eu quero mergulhar em mim.

SEGUIR o caminho INVERSO fazendo o PERCURSO pra FRENTE.

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Carta pra você.

São Paulo, 28 de Outubro de 2010.
1:40 A.M

Não tinha nem 10 anos quando já tinha vontade de viver criando histórias.
Ler era quase sempre uma viagem sem volta.
E no vai e ve, ia das palavras aos desenhos.
Das casas em formato sorvete às histórias que tentavam imitar o estilo Agatha Christie…
Ah! Nem tinha maturidade pra entender aquilo, a compreensão era muito mais inocente, as tramas surreais. Sei lá! Fico pensando se aqueles cadernos repletos de histórias – que hoje entendo como noir – foram parar nas mãos de alguem.

Será que alguem deu risada? Uma criança tentando imitar os livros que encontrava na estante do quarto dos fundos.

Os livros chamavam atenção porque tinham capa dura e cores bonitas.
Julgava mesmo pela capa e lia, lia tudo o que conseguia, alguns não eram próprios pra idade… mas na minha cabeça era tudo muito certo, interpretava como queria e sem dificuldades. Ser dona da razão nunca foi problema.

Cresci escrevendo e lendo muito. Tive minhas influências…tive exemplos, grandes exemplos.
Na memória, um avô na cadeira de balanço sempre com um livro nas mãos.

A ficção sempre mais interessante que a realidade até nos jornais inventados. Tinha o chamado “Jornal do Absurdo”, onde pautas impossíveis eram criadas e interpretadas com muito afinco.

Queria mesmo era ser escritora, mas não sabia se podia, todo mundo queria ser médico, advogado, professor, veterinário, bancário…falava então que seria arquiteta porque achava que assim poderia tornar reais as casas em formato de sorvete.

Cresci.
Questionada sobre a profissão escolhida (designer) sempre.
Fui parar em uma cidade desconhecida, tanta gente, tanto carro, tanta coisa… acordava, contava até 10, respirava fundo e saia de casa pra absorver tudo o que podia.
Me apaixonei porque me vi num lugar cheio de pessoas com a mesma fome que eu. Arte.
Viver de arte.
É possível? Arte não se come.

4 anos em uma faculdade meu caro….pra mim foi só uma maçaneta girada. Com pouco eu não consigo e não me conformo.
Tempo? Tempo não existe e se você quer absorver tudo que te é fornecido, tem que se contentar com 1/3 do todo. Designer? Oi? Não, não é isso…já passei pela porta, lembra?
Voltei a infância e entendi o presente.
Hoje me vi precoce numa sala cheia de pessoas… 5,10, 20,30 e talvez até 40 anos mais experientes (não velhas) que eu. Me assustei, mas depois comecei a pensar nesse blá blá blá todo e vi que sempre foi assim.

“Precoce” é uma palavra presente há muito.

Me escondo atrás de uma personagem e gero várias primeiras impressões que até são reais, mas que tão longe de serem as verdadeiras protagonistas.
Engraçado (pra não perder o costume), não me importo.

As palavras me voltaram dentro de uma realidade em que a fantasia pode existir pra todo sempre.

Tô longe de um “the end” e estranho é ser normal.

Cibele.

7 anos, alguns cachos (me devolve?) e muito vida pela frente.

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Almodóvar.

9:30 da manhã, metrô cheio, atrasada e sonolenta.

Consigo achar um lugar vazio, a trilha é Thomas Dutronc, escuto as palavras francesas e elas me soam tão familiares…entendo tudo a minha forma, sou quase francesa e tudo está cinza.
Cinza até que ela entra.
Uma mulher loira e encorpada com seus 50 anos entra no metrô trajando um sobretudo vermelho, vermelho sangue. Não sei o que os outros pensam, mas logo saio da onda francesa e percebo a cena que acabar de se formar bem na minha frente. Almodóvar. Loira, trajando vermelho. Um ponto vermelho em meio aos tons pastéis.

12:40. Meu estômago já chama pelo almoço, lá fora o sol está forte, observo os carros que formam um trânsito horrendo na avenida, todos branco, preto ou cinza. Tristeza, estou irritada.
Eis que surgem três carros de uma só vez. A cor? Vermelho, vermelho sangue.
Mais uma vez enquadro uma cena.
Almodóvar. Asfalto negro, trânsito preto e branco e em meio ao caos o vermelho.
Vermelho Almodovar.

Os nervos? Atacados! Veias pulsando, sangue fervendo, displicência nas palavras e nos ombros um casaquinho vermelho.
Almodóvar, hoje é dia de Almodóvar.

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Carta de Cibele.

São Paulo, 27 de outubro de 2010

Queridos leitores,

Tava cá comigo pensando sobre o Escala. A frequência dos posts só aumentou desde que botei a criança no mundo, mas percebi que acabei criando uma bolha.
A bolha entre o destinário e o remetente. Como pude fazer isso ?! Mil perdões…
Resolvi então hoje furar um pouquinho a bolha e chegar perto de vocês que acompanham minha escala, opinando ou não, eu sei que acompanham! Tenho um controle disso rs… é gentee, as visitas estão crescendo, os elogios e críticas cada vez também mais presentes, acho lindo, acho ótimo, SUPER ÓTIMO, como aspirante a escritora, roteirista-beginner, poetisa sem regra…enfim, tô feliz em saber que há o retorno de vocês, isso só me incentiva a criar e criar e criar…e devo falar pra vocês que o Escala tá com link agora no meu site também (ééé queridoss, site! Simples site, mas chique demais rs !) e lá vocês podem encontrar todas as minhas ilustrações também, pode fuçar tudo, criticar, mandar beijo, elogiar e até querer fazer parceria em trabalho hem… rs.

http://www.cibelenogueira.com.br

É isso gente, prometo prosear mais com vocês…espero que continuem me acompanhando, Irene, Joana, Arnaldo, disco voador, amor, pessoas, sentimentos…e todos os anexos. Amo isso aqui!

Amor,

Cibele Nogueira.

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Suporte.

Sem mar de suporte.

Sem mar de suporte.

Acho que se realidade não comporta poesia, a gente não existe.
E se existe poesia na realidade, a realidade é o suporte, é o que faz a poesia acontecer.
Poesia musicada, desenhada ou falada, nenhuma delas existe sem um suporte.
Suporte é amplo, pode ser qualquer coisa, se a gente não especifica fica mais legal. Livre e subjetivo.

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inSATISFAÇÃO

Coisa do ser humano focar na insatisfação o tempo todo. Se tá frio quer o calor, se chove quer sol, se tem silêncio quer barulho, se tem companhia quer a solidão.
Busca eterna pelos antônimos, despacho dos sinônimos, encontro do desencontro, falta de casamento, rotina da reclamação.
E a satisfação sempre ali, embaixo do nariz, quase nunca é vista coitada, mal aproveitada e quase sempre desvalorizada… porque legal mesmo é reclamar de tudo o tempo todo. Vai sorrir desgraçado!
Coisa do ser humano mesmo, esquisito, coração sempre dividido, descontrole controlado sem razão, transbordando emoção, esguichando pelos olhos, orelhas, boca e nariz.
Falsa insatisfação.
Que se fosse pensado direito, é certo que saberia fazer distinção entre falso e verdade e vice-versa e nunca abusaria no uso dos prefixos de certas palavras. inSATISFAÇÃO

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Nome não é único.

Júlia é o nome da minha vó, da filha da minha amiga, da namorada do meu amigo, da filha do meu primo, da minha prima e de uma música que eu gosto bastante….daquele Caetano (que eu tanto falo aqui e que ninguem deve aguentar mais).

Tava pensando agora que a única coisa que a gente tem e que não é único é o nosso nome.
Quantas pessoas com o SEU nome você conhece, ou pelo menos já ouviu falar? Júlia, Carol, Maria, Vitor, João, Pedro, Beatriz.
É engraçado não existir um nome único, nomes em geral são estranhos, você não escolhe, ganha de alguem né…às vezes tem até algum tipo de explicação “ahh era o nome da sua bisavó que morreu há sei lá quantos anos atrás”, mas o fato é que a gente aprende o nosso nome e ponto.
Hoje tem gente que muda né, depois de ter visto Dona Corintiana, eu não me surpreendo mais com nada…sem falar que tem aqueles casos de Luis que vira Luisa ou Luisa que vira Luis, pseudônimos, sobrenomes, apelidos que acabam virando nome, Woody Allen, Voltaire, Sílvio Santos, Cazuza, Chitãozinho e Xororó.

Quando você não tem um nome que cai como luva, inventa né…continua não sendo único, se bem que de Xororó só conheco/ouvi falar do Xororó mesmo, mas duvido que não exista algum guri por ai, filho de uma mãe maluca que olhou pra cara dele quando nasceu e falou “Ele vai se chamar Xororó, igual aquele moço que canta música sertaneja”.
Tiririca! Lembram? Aquela música dos nomes…a chance de escolher o nome…
Sinceramente não queria não, talvez eu pense isso porque to satisfeita com meu nome? É que no final acho que a gente acaba tendo a cara do nome que tem mesmo…mesmo não sendo único, é só uma etiquetinha de identificação, nome não é nada.

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