Imaginação, imagens, ação, palavras, papel, caneta e a infinita possibilidade de criar um mundo, pessoas, línguas, animais falantes, objetos que ganham vida, jardins que se transformam…situações incoerentes com a realidade.
Escrever sempre foi uma fuga, um refúgio, um conforto, uma vontade de fazer acontecer o que não acontece ou de simplesmente contar o que acontece de um jeito mágico.
Dificuldade com as palavras na vida real, a vontade de ser compreendida sem conseguir ser clara e precisa.
Como funciona a ficção? O que é ficção? Se a ficção não existe, por que é possível se sentir viva numa atmosfera onde nada é real?
Fazer chover sapos, criar ets amigos, um parque cheio de dinossauros, um mundo de pessoas azuis que lutam pela natureza, simular o fim do mundo, amar o proibido, conversar com peixes, ser amiga de pinguins, conseguir voar, torcer por um homem que se veste de morcego, se identificar com um pirata bêbado.
Magia.
São inúmeras as possibilidades, poderia falar sem parar dos personagens criados e que eu e você idolatramos. Dos livros, dos filmes que podemos assistir no “mudo” e falar em voz alta os diálogos decorados, as frases feitas, os jargões…
Escrever é uma matemática mágica, se você sabe a fórmula, cria quantas equações quiser e o resultado aparece bem ali…por vezes redondinho, por outras com alguma vírgula imprecisa.
Hoje eu li o texto de um amigo que tinha um blog, um texto curto, mas cheio de cor, de imagem, de fatos…quando perguntei onde poderia achar mais daquilo, me referindo a um antigo blog em que ele costumava vomitar palavras, sua resposta foi bem simples, mas me deu uma cutucada: “…aposentei, agora é assim de vez em quando”.
De vez em quando, de vem em quando…
Na hora lembrei disso tudo aqui e do dia em que comecei a vomitar minhas palavras, criar meus personagens, inventar meus mundos.
Me transformei no “assim de vez em quando” e nem percebi, senti saudade de quando sentava na frente do computador, de quando andava com um caderninho pra cima e pra baixo e de quando não existia hora certa pra vomitar o que se passava pela minha cabeça, as coisas costumavam fluir com mais facilidade, as histórias surgiam, pessoas nasciam, fatos reais se fantasiavam sem máscaras!
Abri meu blog e li os últimos textos, todos em crise visível de criatividade…como se de repente minha vida tivesse ficado vazia, como se a criatividade tivesse tirado uma folga por algum lugar da minha cabeça e também tivesse se escondendo de mim.
“Preciso recuperar o tempo perdido”, pensei.
“Preciso escrever”, escrevi.
“Como funciona a ficção?”, li na capa de um livro.
“Mas…como funciona a ficção?”, pensei, pensei, pensei.
“Adicionar Novo Post”, olhei pra tela em branco e pro cursor que piscava como se me cobrasse algo.
“Vamos! Escreve menina! Escreve, inventa uma história, conta alguma coisa!”, dizia o cursor piscando agoniado.
“Mas eu não sou de escrever sobre o que se passa comigo…tô de mal com as palavras, elas não querem me ver”
“Então fala sobre o que é escrever, resgate o amor que sente quando forma frases de efeito, converse com elas…elas irão voltar”.
A ficção funciona assim…sai lá do fundo quando você menos espera e quanto mais eu escrevo, mais escreverei, quanto mais eu crio, mais criarei.
Bem vinda de volta, seu velho hábito te espera.
Escrevo, logo existo. Existo, logo escrevo.