O chamado.

Irene estava longe, não conseguia voltar para si.

Entre discos arranhados e sonhos que pareciam distante, era lá que Irene se encontrava, sentindo saudade de algo que talvez nunca tivesse existido. Mas onde estaria seu amigo balonista? Onde estaria aquele que sempre lhe socorria em meio aos seus devaneios? Esperava uma carta, sentia um vazio que não podia ser preenchido por nada a não ser pela fuga da realidade. O lado que pesava te puxava para baixo e o que flutuava estava perdido zanzando por aí sem destino, o que ela queria mesmo era encontrar o conforto do seu balão, ou partir em uma nave com aquele astronauta que parecia seguir seus últimos passos junto a ela, te trazendo paz e certezas, mas o mundo já não tinha certezas, ela se deu conta de que tudo sempre fora incerto e que tinha passado anos mergulhada em um grande mar onde podia pegar o peixe que quisesse, mas tamanho era o estado de distração que já não sabia em que exatamente tinha mergulhado e que peixe deveria pegar.

Tudo acaba, tudo passa, nada fica, só o vazio fica, o vazio fazia parte dela e ela já não lembrava como era sentir aquilo, tinha que aprender a lidar com o vazio mais uma vez, com o silêncio, com a falta de respostas e com as incontáveis interrogações que pairavam em sua cabeça. Ela não tinha nascido para ser “nós”, lembrou de quando tinha prometido não decifrar pessoas, era tudo tão mais fácil e seguro, por que tinha se perdido no espaço daquele astronauta? Astronautas zanzam por aí querendo conquistar novos planetas, Irene não queria todos os planetas, queria apenas o seu planeta, dentro do seu universo, de acordo com as suas possibilidades, com os seus sentimentos e com o seu humor. Tinha se doado tanto que estava no maior estado de esgotamento da sua vida, precisava do balonista, precisava colorir seu céu e conseguir voltar a voar e a pintar por aí, mas o balonista não dava nenhum sinal de vida, parecia mesmo um abandono e aquilo machucava tanto que só confirmava o quanto tinha sido tonta em ter deixado seu amigo partir. Ele devia estar em algum canto enfurecido, talvez com suas tintas esgotadas, talvez usando as tintas com outra Irene, talvez com outra Júlia, talvez tivesse desistido mesmo dela. Irene sentou na beira da janela, olhou para o céu e gritou pelo amigo, gritou tanto que perdeu a voz.

Estava sozinha, rodeada de pessoas, mas sozinha, porque ninguem a entendia tão bem quanto o seu amigo balonista. Fechou os olhos e desejou o seu retorno, prometeu fazer isso todos os dias, na certeza de que um dia talvez ele voltasse, segurasse sua mão, te presenteasse com um novo pincel e a convidasse para colorir céus por aí.

Rezou pro universo, meditou e adormeceu.

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Quando o vento passa de boca aberta.

Estava fazendo caretas enquanto se olhava no espelho, passou um vento forte e tamanha foi a surpresa ao notar que sua cara permanecia a mesma, não tinha nada torto.

Apontava pro céu enquanto contava estrelas, olhou os próprios dedos e viu que não tinha verrugas.

Experimentou fazer caretas no vento e apontar estrelas – tudo ao mesmo tempo –  gostava de “pagar pra ver”

Nunca teve cara feia, nunca verrugas.

– Por que eles insistiam nas regras?

– Apenas para dar abertura às excessões.

Abandonou as reticências, sentiu-se seguro. Foi um grande incômodo.

– E o que significa?

– Por que tudo tem que significar? Isso aqui não é semiótica meu amigo, isso aqui é vida real.

– Se não questionasse tanto, sentiria paz.

– A paz às vezes tem forma de caos.

– Sempre o caos.

– Claro, se não fosse o caos o que seria?

– As verrugas e as caras tortas.

Abandonou a conversa, fechou o chat, foi ler um livro. Antes passou por um espelho e fez algumas caretas.

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Espelho.

Os extremos, os dois lados. 

A incepção, a platéia da platéia.

Síndrome de não sou eu, a mais nova do século, diálogos exagerados entre os extremos.

– Eu sou você?

– Quem é você?

– Eu sou você?

– Você sou eu.

Parou diante do espelho e se viu em um cubo.

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Do céu para Irene.

Após longa caminhada, parou e abraçou a grama com os dedos dos pés.

Se olhou,  percebeu que  estava inteira molhada.

O pulso, pulsante e o impulso cheio de vontade.

Sentiu medo, o cérebro e o coração agora estavam juntos.

Ouvia sua  respiração, seus batimentos cardíacos.

 

Boicote.

 

Não queria pensar, mas era a entrega que não saía da sua cabeça.

Queria cair em seu próprio colo, se afogar na própria alma, sem temer.

Era um costume devorar o que podia, mas há tempos não o fazia e a prática lhe faltava, desejava apenas que o tempo tivesse mais tempo e que não existissem as reações.

Deitou na grama, fechou os olhos e esperou algo do céu.

 

Choveu.

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Blackout

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Quando abri os olhos me deparei com o blackout, cheguei até mesmo a pensar que estava cega. O chão molhado, meu rosto também – um líquido estranho, seria sangue? – levantei e resolvi andar, queria entender o que estava acontecendo, o turvo foi tomando forma, forma monocromática, o caos estava instalado, na minha mente é claro, claro que minhas últimas lembranças eram do João dançando e segurando uma garrafa de Jack Daniels já pela metade. Puta ressaca ou ressaca de puta? Que porra eu tinha feito?

Um carro passa por mim, o cara bem vestido vem falar comigo, olho pra ele e vejo que não passa de um babaca que nunca comeu ninguem, o que será que ele quer? A boca do sujeito se move, não entendo nada, ainda estou zonza.

Blackout.

Abro os olhos mais uma vez, tô no topo de um prédio, a escala de cinza me persegue, agora luzes brilham e não sei se estou em Gotham ou em Sin City. Posso ser quem eu quiser.

Touché!

Posso ser quem eu quiser.

O turvo toma forma. São apenas as remelas que impedem os olhos de acordarem de uma noite bukowiskiana. O céu está claro e eu estou atrasada.

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maio 23, 2013 · 4:21 am

Descendo.

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Fonte Imagem: http://decapitateanimals.tumblr.com/

         Irene resolveu parar e ao descer do balão após horas de caminhadas por um terreno árido, encontrou aquele que sempre lhe aparecia, o balonista:

– Agora você segue, daquela linha dourada em diante não tenho mais permissão para passar. Não mais te enviarei cartas , as minhas só chegam aos céus de cores explosivas, agora o terreno é outro Irene. Finque os pés e ande.

        Não se despediu, nem olhou pra trás, seguiu esperando encontrar um precipício, queria se atirar pra voltar a viver.

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Futuro

20130314-015512.jpg

O astronauta, o tal astronauta e ela de boca vermelha.

Dessa vez tinha ido longe, depois do balão, do aquário…depois até mesmo do mar, ela foi pro ESPAÇO,

afinal já não podia contar estrelas – as poucas e únicas que via a olho nu quase não mais apareciam –

apesar de terem apontado na highway mais certeira: o céu.

Por que não contar planetas? Queria flutuar.

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Lorem Ipsum

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Sempre Lorem Ipsum. Quando consertar o teclado eu volto. Deixo aqui minha promessa.

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Dançando na chuva

Quando não é de açúcar, derrete de leve,
se for mesmo doce, fica é todo melado.
Que a chuva lave a alma do desesperado que quiser fugir prum teto,
porque é do teto fechado que tem o pior buraco.

Buraco invisível. Claustrofonofobia. Preguiça.

Levanta, mas não anda, senta mas não chora. Vazio.
Chuva de 5 minutos, não derreteu, não melou.

Relax.

Feche os olhos,
agora dance.

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